25/12/2008


A JANELA

Numa das filas do Poupa-Tempo, a velha senhora acompanha o adolescente, provavelmente seu neto, que aguarda para ser atendido. Ela veste uma blusa de lã bem maior que suas medidas, sobre um surrado vestidinho florido que certamente não a protege do dia frio; e ele, magrinho, também se veste de um jeito simples.

Ao contemplá-los caminhando juntos, temos a sensação de estarmos olhando para nós mesmos, de uma forma estranha e múltipla, como se abríssemos uma janela e pudéssemos olhar para dois lados do infinito: a história da avó e tudo o que aquela senhorinha teve que atravessar, penar, sofrer, sorrir e chorar pra chegar até aqui e, mesmo exaurida, ainda amar e cuidar desse menino, este outro infinito, oposto e futuro.

Meio sem jeito, ele se deixa levar pela mão da avó, que lhe segura pelo braço e o conduz docemente. Se o infinito da avó nos emociona, o do menino nos enche de incerteza e preocupação, o que faz com que o desejo dela passe a ser também o nosso, o de que ele caminhe em paz sobre o futuro.


Nenhum comentário:

Postar um comentário