25/12/2008



LOUCOS – CINEMA E REALIDADE
Ontem encontrei-me com Padre Jaime, esse irlandês que escolheu viver no nosso mundo para fazer crer os incrédulos e animar os céticos, fazer história enfim. Sessentão, cheio de vida e boa prosa, é difícil conversar com ele sem remoermos, de maneira bem humorada ou indignada, as mazelas políticas locais, da cidade e do país, pois ele é, em essência, um 'animal político', ao mesmo tempo em que não deixa de ser um ser humano pra lá de admirável, em todos os sentidos. Ontem quase conseguimos não falar de política, pois eu contava que havia visto um filme que me fez lembrá-lo, por ter sua Irlanda como cenário. Tão acostumado a tratar 'do mundo dos outros', seus olhos brilharam ao me indagar sobre o filme, como se um mar de reminiscências o agitasse. Conversamos vários minutos sobre a beleza de 'A Filha de Ryan', de David Lean, filme que ele também admira. Falei do incansável padre Hugh, papel impagável de Trevor Howard, da beleza da natureza e de vários aspectos políticos abordados pelo filme, mas ele falou do personagem que mais o impressionou, o louco Michael, e o quanto, em sua loucura, era um visionário, via tudo, sabia de tudo, antes de todos. Numa faísca viemos da Irlanda para o Jardim Ângela, pois Jaime me contou que ali nos arredores também tinha um louco assim, o Beato Salu, também visionário, pois no dia em que policiais entraram em sua casa e ele teve a terrível sensação de que algo ruim poderia acontecer - ao contrário de tantas outras vezes em que fora ameaçado - Beato Salu entrou em sua casa, sem quê nem porquê, como nunca o fizera antes, tumultuou o ambiente e fez com que os policiais fossem embora. Poucos tempo depois Jaime viu, na televisão, que o policial que lhe causara péssima impressão era o Cabo Bruno.

Nenhum comentário:

Postar um comentário